domingo, 24 de junho de 2012

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente,
embora o meu amor seja uma velha canção
nos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos,
das noites que vivi acalentado pela graça do indizível
dos teus passos eternamente fugindo, trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso dizer que o grande afeto que te deixo
não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das lágrimas
nem as palavras misteriosas dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento
de carícias e só te pede que te repouses quieta,
muito quieta.
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem
sem fatalidade o olhar estático da aurora.
Vinicius de Moraes.

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