quarta-feira, 14 de junho de 2017

O Diário de Alice

Conto nada, os segredos são meus...


Ingênua eu? Sou nada, só não dou pista pra ninguém!


Como vou prosear neste diário? Sei não! Mais posso dizer que fiquei muito grilada com este presente que meus pais me deram, não é meu aniversário ainda... pra mim, tem alguma coisa aí. Sô lesada não, nem fraca, eu sei pensar, tenho aqui dentro uma desconfiança enorme, ninguém fresca comigo não, eu durmo com um olho.
 

Bom, desfeitear um presente desses posso não, minha mãe veio me dizer que, como atingi uma idade onde guardamos segredos mais profundos e para não guardarmos somente com a gente, escrevos tudo no diário, até aqueles dias mais chatos, escrevemos aqui. Até que estou começando a gostar desse troço, como sou muito esperta, meus segredos aqui, conto nada, vai que um dia desses ela lê o que eu falei aqui, escrevo não.

Meu nome é Alice, sou uma pré adolescente muito gente boa, nem todos tem a mesma impressão, me acham muito inocente, ingênua, pensam que sou lesada demais. Esse é meu jeitinho de ser, gosto de ser livre, falar o que penso, não mudo para agradar ninguém, só porque não fico dando pista, tenho que ser o que não sou? A transparência engana demais sabia? Não vão achando que só por que tenho cara de inocência, tem que frescar comigo... a mulekinha aqui, é danada de esperta.

Moro na cidade de Vinópolis, uma vilarejo pequenininho e simples, onde todos adoram tomar conta da vida dos outros, também, conhece todo mundo, um respiro que der: é um sopro, já sabe que a pessoa está resfriada, é desse jeito, fazer o que? Vinopolenses amam agitar o lugar, mesmo quando tem gente nova no pedaço, aí que a coisa fica feia, não tem como escapar não, fuxica tudo, até descobrir o que veio fazer aqui...

Estou muito sem graça, fico olhando esse diário, que meus pais me deram com tanto gosto, e penso: Será que é bom ficar escrevendo aqui? Se for, tô gostando por demais mesmo, o que mais adorei aqui é ver que as folhas são bordadinhas, dá pena de rabiscar nelas, um mimo que só. Minha mãe diz: que é bom ter um caderno desses, pois alivia muita coisa dentro da gente, pensei de novo: Mamys, tá frescando comigo de novo, vou falar aqui meu dia a dia, meus segredos mesmo: Conto nada!!

Pilar Mariosa Bastos 

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