segunda-feira, 27 de junho de 2016

Preciosidade

A biografia jamais lida.


A permissão para contar a história que poucos conhecem, uma leitura de fácil interpretação e de autoconhecimento. O conto que ninguém jamais leu ou teve ideia de como tudo começou.



Tudo começou como brincadeira, queria apenas passar o tempo, preencher as horas vagas que me deixava entendiada quando de fato não passava de entretenimento  sem cultura, computador, televisão, celular e vice-versa. O meu tédio aumentava quando a minha rotina do dia-a-dia não estava me interessando mais, eu queria mais, o que ainda não havia descoberto.

Sempre ouvia os murmurinhos das pessoas falando da pessoa misteriosa que morava no alto da rua, a casa que todos não tem muito acesso, o moço respeitável que não dava confiança para ninguém, procurava muito de vez em quando meu pai para uma simples e singela conversa entre duas pessoas cultas da sociedade. Pouco se falava de sua história, mas quando ameaçava contar dava a desculpa de que estava tarde demais e que precisava ir embora. Quem frequentava aquela casa? Meus pais, eu e a solidão que por ali habitava.

Os anos foram se passando, fui crescendo na medida do possível, atingi a maior idade e a minha curiosidade foi só aumentando, desde então pensei dar início a minha personagem maluquinha: A detetive atrevida e esperta resolveu aparecer e resolver de vez toda essa história. O interessante, que nunca gostei de fazer pesquisas, ler livros. Confesso que meus gostos por eles tem aumentado cada vez mais, graças a minha curiosidade.

Ninguém sabia o que eu estava a fazer em minhas horas vagas, sempre dizia que ia a biblioteca fazer pesquisas sobre livros de romance, histórias que tocam nossos corações, e também como de auto ajuda que me fazia melhorar um pouco de cada dia, fui acrescentando novos vocabulários em minha listas de palavras e mais conhecimentos. Um dia, este certo moço precisava de alguém que pudesse ajudá-lo a organizar seus documentos, livros, de certo já sabia de meu interesse e resolveu me dar uma ajuda. Pensei: Por que não? Claro que irei a candidatar para esta vaga, e querem saber? Eu a conquistei.

Ao começar a trabalhar para este moço, fui observando como tudo acontecia dentro daquela casa. Quando criança achava fantástico o que via por lá, mas não entendia o que acontecia ali dentro, havia um certo limite permitido. Os espaços limitados para aquela criança, foi liberado por mérito, confiança e sigilo. Nunca comentei ou perguntei algo que não pudesse de fato forçá-lo a falar, foi acontecendo naturalmente conforme o meu desempenho. Estava ali nascendo uma amizade entre a detetive atrevida e esperta com o moço misterioso.

Ele sempre estava a me observar, e quando eu pegava algo que ele próprio achava melhor não passar meus olhos, me dizia: Na hora certa vai saber, agora coloque na pasta vermelha e quando form o momento te contarei. Isso me deixava louquinha, pois queria saber o que ali estava escrito, porém, não queria perder o que estava conseguindo aos poucos, sua confiança.

E foi assim que minha admiração por ele foi crescendo, pois tantos anos frequentando aquela casa, conhecia todos os lados, todos os mapas daquela casa já estava gravado em minha memória. Ele conhecia muito bem a garotinha que brincava em sua casa e que tinha permissão de correr para todos os lados de seu esconderijo, era limitado, mas sempre dizia: quando crescer vai poder saber de minha história, mas agora lhe contarei contos de sua idade.

Cheguei há uma conclusão, dormi pensando nela a noite toda e a madrugada a fora. Acordei bem cedinho para trabalhar naquela mansão que muitos adoram falar o contrário, porém ninguém ali teve o atrevimento que eu tinha, vivia no medo do que poderia ali acontecer. Me pergunto: Para que existem as biografias? Pra contar parte da história permitida?

Sim, a biografia conta história de alguém que passou um mucado, fala da superação, das dificuldades que passaram, dos amores correspondidos, de como passaram a viver uma vida melhor. Colocam fotos de quando eram pequenos, histórias tristes permitidas em seu limite, nem tudo está sendo de fato falado ou colocado da forma que querem colocar. iremos conhecer de verdade convivendo com a pessoa e não lendo parte de sua vida.

O melhor livro que li até hoje, que serviu como tese de monografia, pós graduação, mestrado e doutorado, foi a biografia da vida, onde pude conhecer esse moço mais de perto. Uma história com alegria, mas que passou pelo processo de muita dor e sofrimento, deixando se fechar para a maioria das pessoas, mas nunca deixou de ser humilde, sincero, verdadeiro. Tinha um lado que nem meus pais conheciam, mas me foi permitido conhecer: o lado extrovertido e alegre, da tristezas e lágrimas de quando falava de sua família.

A maior preciosidade que temos em nossas vidas, é a pertença de uma entrega, a conquista de um novo ser, a convivência diária, a permissão de ler a maior biografia humana. Aquela história que só nós sabemos e não aquela que esta sendo contada por vários capítulos e com uma linda capa e um resuminho atrás do livro.

Nunca se esqueça. Uma virgula colocada no lugar errado, muda completamente o sentido da frase. Os limites expostos jamais o fará pertencer o mundo no qual deseja estar. Toda mudança gera curiosidade, toda curiosidade desperta um desejo. Não queira, colocar virgulas, pontos e travessões nos lugares errados, permita que seu livro da vida seja manuseado através daquilo que a sua permissão almeja, mudar uma história é mudar um caminho percorrido a anos.

Eis aqui uma pergunta: Você se permite a essa pertença? Permite que o outro leia o seu livro da vida sem fazer aquele mistério? Já entregou a pertença da vida? Ou quando alguém lhe faz aquela pergunta: me conte um pouco mais sobre você? O que responde? Não tenho nada pra contar, ou concorda plenamente com o desejo despertado da pessoa que só quer saber um pouco mais da sua história?




Pilar Mariosa Bastos da Silva.

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